Sergio Cruz Lima
O baile
Em São Petersburgo, na época dos Romanos, a temporada social começava na véspera do Ano Novo. Nas semanas de inverno, usando as suas mais belas roupas e as suas mais ricas joias, a aristocracia russa se movimentava numa roda-viva de concertos, balés, óperas, banquetes, recepções e bailes. Muitos bailes. Todo mundo dava festas e todo mundo comparecia.
Tradicionalmente, os melhores bailes eram os oferecidos pelo tzar e pela tzarina no Palácio de Inverno. Nenhum palácio europeu se igualava ao Palácio de Inverno, dotado de uma sucessão de galerias gigantescas, cada uma tão grande, rica e alta quanto uma catedral, e grandes colunas de jaspe, malaquita e mármore sustentadoras de altos tetos ornados de figuras em ouro dos quais pendiam pesados candelabros de prata e cristal. Um infindável cortejo de carruagens com escudos das famílias da alta nobreza russa nas portinholas desfilavam diante dos portões trazendo passageiros engalanados que, ao desembarcarem dos veículos, deixavam nos vestíbulos com pajens palacianos mantas e pesados casacos de pele, antes de subir as largas escadarias de mármore, cobertas com pesadas passarelas vermelhas. Nas galerias feericamente iluminadas, buquês de orquídeas e vasos de alabastro com palmeiras emolduravam imensos espelhos italianos, nos quais os convidados podiam se mirar e se admirar ao mesmo tempo. Nos corredores, a intervalos regulares, soldados da Chevaliers Gardes, de farda branca com armadura prateada cobrindo o peito e águia de prata no elmo, e cossacos em túnica escarlate montavam guarda, rígidos, em posição de sentido.
Os três mil convidados incluíam oficiais da corte, trajando uniforme preto com rendas de ouro, generais com o peito curvado ao peso de medalhas de guerra e jovens oficiais hussardos em uniforme de gala, com calça de pele de alce tão apertada que era preciso dois soldados para ajudar a enfiá-la. No grande salão de baile, a paixão das mulheres russas por joias era ostentada em cada cabeça, dorso, orelha, pulso, dedo e cintura. A festa imperial iniciava impreterivelmente às 20h30min, quando o grão-mestre de cerimônias aparecia e dava três fortes batidas no chão com o bastão de ébano encimado pela águia de duas cabeças, símbolo do tzar. Logo o silêncio imperava. A grande porta de mogno se abria e o grão-mestre anunciava: "Suas Majestades Imperiais". Centenas de vestidos farfalhavam enquanto as damas se curvavam em profunda reverência. A orquestra irrompe numa polonaise e, no decorrer da noite, toca quadrilhas e danças da época. Às 24h o casal imperial se retira. Aos poucos os convidados deixam o local. O baile chegou ao fim.
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